Quando estava lá eu sabia:
Era a minha terra, o meu rio, o meu leito de vida.
Simplesmente era assim, natural.
Eu nem sequer pensava que houvessem
Outros lugares,
Outros lugares,
Outras terras e cores,
Tanto, não,
Essa palavra nem me ocorria,
Simplesmente era assim, natural.
Azul em cima, do céu, de tamanha verdade.
Eu tinha o ocre nas mãos, eu plantava,
Eu colhia, fazia tijolos, eu sorria.
Eu tinha o ocre nos olhos.
De muito olhar pro deserto
Meu olhar transbordava a cor das areias.
Quando estava lá eu sabia.
Sabia que o papiro dança e rodopia
No vai e vem do vento,
No vai e vem do vento,
No corre-corre das águas frias, azuis, refrescantes,
Doçuras da vida, doçuras da vida.
Sabia que quando o papiro dança
Ele não está sozinho,
Pois baila com o tempo,
Com o toque das garças
Que pousam nas plantas,
Roçam suas plumas,
Leves, pulsantes, brancas,
O sol que é o olho de Deus
Que me vê...
Que me vê.
Quando estava lá
Eu sabia tudo da dança do papiro.
Tudo, porque era o que eu via, dias a fio,
Sem cansar de ver
Porque era assim, natural.
Natural era ver o vermelho, o ocre, o azul,
Porque as cores eram muitas
E entravam no meu ser como alimento,
Coloriam minha alma,
Aqueciam meu peito,
Brilhavam meu olhar.
E eu sorria.
A cor era crua, assim, natural
Tal como o limo do rio,
O húmus da terra,
O sumo das uvas.
A cor, sendo crua,
Tinha o doce da tâmara,
Que eu sabia o sabor.
Quando estava lá eu sabia.
Eu sabia das tamareiras, das ervas, das flores.
Do tempo que flui dentro dos juncos
Do tempo que mora nas águas dos oásis.
Quando estava lá eu sabia
Que esse tempo se conta
Estas que murmuram na noite
No céu do deserto,
Que falam da vida,
Da origem
Do nascimento.
As estrelas falam no céu do deserto
Sobre os mistérios da vida
Que morre e renasce em cada doce da tâmara
Em cada mel da abelha
Em cada lótus aberta,
Em cada broto de vida,
Como a voz
Das estrelas no deserto,
Falando do tempo,
Da vida,
Quando eu estava lá eu sabia que tudo era um só,
Tão junto, tão justo,
Como a harmonia
Do azul, de verdade do céu,
Do azul, de bondade do rio.
E, tu sabias, que tudo me veio à lembrança
Quando te senti ao meu lado,
Quando quase ouvi tua risada,
A tua sandália roçando
No chão macio ao meu lado?
Foi quando me dei conta disso e, sabes?
Penso que ainda sei algumas coisas daquilo...
Algo que ficou guardado,
Não sei se nas minhas mãos,
Não sei se no meu olhar...
Sei que ficou
Aqui, em mim mesma,
Me alimentando
Do azul, da verdade do céu,
Do azul, da bondade do rio
Que ficou pintado, em harmonia,
Em mim mesma,
Assim, natural.
Natural como o tempo
Que as estrelas cantam no céu do deserto.
E, acho que lembrei,
Quando quase ouvi tua risada,
Que o tempo é assim,
Eterno, natural.
E deságua no ocre dessa minha vida atual,
por me ajudares na busca do ser natural)
5 comentários:
Muito linda e muito, muito emocionante a sua poesia....Natural....
Um imenso beijo,
Luciana.
Linda Sandra!!!! ^^
Beijo no coração!
hermoso homenaje a la vida, a la naturaleza, con tu prosa y tus fotos.
:)
Quando não estava lá
Viajei aqui
Na pureza da paisagem
Na beleza das palavras
Na essência da emoção!!!
Edna Costa
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